Por Rafael Molica (*)

Megatubarão” (“The Meg”, de Jon Turteltaub), entra para a lista de filmes com o selo Hollywood que se nutriu com financiamento chinês (assim como outros títulos, “A Grande Muralha”, “Velozes e Furiosos 7”, “Aranha-Céu: Coragem Sem Limites”) e parece ser um bom exemplo da própria China, o monstro asiático. Como tentar superar o clássico “Tubarão” (1975, de Steven Spielberg, que ganhou várias sequências) no imaginário das pessoas? Oferecendo às salas de cinema um animal ainda maior, bem maior: 23 metros.

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Essa é a proposta do longa-metragem em cartaz, que cumpre a missão de oferecer um entretenimento de ação que dá de ombros para a realidade, cada vez mais aterrorizadora por si só, e que não se preocupa em proporcionar roteiro inovador. O gigantismo também dá as caras na tecnológica base de pesquisas de biologia marinha, cenário de “Megatubarão”, bancada pelo caricato e não muito correto ricaço americano Morris (Rainn Wilson).

Bons efeitos

A cada cena, o espectador tem a chance de se maravilhar com o ambiente marinho no qual o filme mergulha. Diferente de muitas produções cinematográficas, aqui a tecnologia 3D trabalha mais a favor da história e não meramente de forma simplista e com o intuito de deixar o ingresso mais caro. Mesmo que ainda de forma tímida perto do que se pode conseguir, eles favorecem uma experiência mais imersiva da fauna e flora debaixo d’água e contribuem para trazer um diferencial para as cenas de ação – que são muitas, obviamente.

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Embora “Megatubarão” conte com elenco maciçamente masculino – o que poderia ter sido mais bem balanceado -, a força feminina está presente. A protagonista Suyin (Li Bingbing) é nada menos que uma referência na pesquisa na área tema do filme e deixa claro que quer passar sua paixão quase obsessiva para a esperta e carismática filha. Já outra personagem, Lori (Jessica McNamee, de “Para Sempre”, 2012) é nada menos quem comanda a tripulação do submarino que desbrava uma parte do oceano jamais alcançada pelo ser humano. Jaxx (Ruby Rose, rosto conhecido na série da Netflix “Orange Is The New Black”), por sua vez, é quem desenvolveu toda estrutura de pesquisa.

Mas a tendência tardia do cinema em mostrar a força feminina termina por aí. Fica nas mãos do ex-socorrista Jonas Taylor, interpretado por Jason Statham – confortável em um tipo de personagem comum em sua carreira –, a missão de resolver todo o problema de dentes afiados (com um arpão!), o que torna o filme muito previsível. O personagem se vê no eterno drama de ter que decidir sobre a vida das pessoas em uma situação limite, algo de certa forma também vivenciado pelo bondoso Toshi (Masi Oka, da série “Heroes”, 2006-2010).

Força oriental

Além de assustar Donald Trump na economia, os chineses também querem sua fatia do bolo da indústria cultural – isso inclui popularizar seus talentos, deixar sua marca no mundo, além de faturar com a bilheteria. “Megatubarão” também atende ao mercado chinês, formado por uma população que já tem ido ao cinema mais do que os próprios americanos e que se interessa mesmo por enredos com muita ação e comportados. Não é à toa que a protagonista do filme ganha um figurino mais coberto e sequer beija o caçador de tubarões. A sensualidade fica por conta, no máximo, das garotas de biquíni que flertam com os rapazes na praia em que o gigante tubarão visita – cena de destaque do filme.

Jason Statham encara animal de 23 metros em “Megatubarão”

Os números comprovam que a estratégia deu certo. “Megatubarão” abocanhou em seu primeiro final de semana US$ 97 milhões em renda, sendo que metade do faturamento veio de ingressos da China. O país, aliás, conta com um grandioso cardápio de filmes de produção local e limita a lista de filmes estrangeiros, regra que atrai o interesse no envolvimento chinês em produções cinematográficas. Já nos Estados Unidos, o filme arrecadou US$ 44,5 milhões.

O interesse em usar produtos culturais como arma na guerra de forças globais não se resume, aliás, à China. O governo da Coreia do Sul tem conquistado cada vez mais jovens das mais variadas nações com uma estratégia genial: o k-pop. O pop ao estilo coreano é formado por grupos de moças e rapazes locais que batalham por ter seu espaço na música facilitado com o investimento do próprio governo.

Além da música, até mesmo as gírias coreanas têm ganhado a cabeça dos adolescentes, incluindo os brasileiros. É cada vez mais comum ver perfis e Trending Topics (os famosos TTs, no Twitter) de bandas coreanas na internet, por exemplo. O Japão, por sua vez, celebra cada vez mais sua força nos jogos eletrônicos e cultura, o que deve ser intensificado dentro de dois anos, nos Jogos Olímpicos de Tóquio. O negócio no Oriente é soltar seus tubarões e se diferenciar cada vez mais perante o mundo.

Assista ao trailer de “Megatubarão”:

Veja o making of de “Megatubarão”:

(* Colaborador. Imagens: Divulgação)