Por Rafael Molica (*)

Um filme que conta basicamente a mesma história pela quarta vez na tela grande: uma cantora que precisa fugir de si mesma para interpretar uma estrela da música, um astro da recente Hollywood que acumula quatro funções no mesmo trabalho. Armadilhas não faltam para atrapalhar os planos de uma empreitada bem sucedida mas Bradley Cooper e Lady Gaga topam o desafio de encarar todas elas em em “Nasce Uma Estrela”.

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Mais próxima da versão de 1977, com Barbra Streisand e Kris Kristofferson, o longa-metragem começa com a enfadonha rotina de Ally (Gaga), uma jovem que trabalha em um restaurante para pagar seus boletos. Por outro lado, é na noite que a personagem consegue viver o sonho de ser cantora.

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Durante uma performance de tirar o fôlego de “La Vie en Rose”, imortalizada pela francesa Édith Piaf (1915-1963), Ally não só atrai os olhares do espectador e dos frequentadores do lugar como também do ícone musical country Jackson Maine (Cooper), que vê nela o frescor criativo e sincero que ele mesmo teve um dia. A partir dali, as duas almas se encontram em um momento que mudará para sempre suas vidas. Se por um lado uma jovem se depara com a chance de abandonar os próprios medos e se tornar uma estrela de sucesso, por outro Jackson experimenta o fim de sua sólida carreira – regada a drogas, álcool e culpa. O casal tenta se manter nessa delicada situação.

Embora trata-se de um romance previsível, banal e tradicional, o que conta em “Nasce Uma Estrela” é a forma como a história é retratada e comprova toda a graça do cinema em se reinventar. Versátil tanto em comédias como “Se Beber Não Case” como nos dramas “O Lado Bom da Vida” e “Sniper Americano”, Cooper retorna na pele de um irresistível cantor que dá aquele empurrão que faltava para seu grande amor brilhar. Preciso, ele consegue trazer o jeito durão do personagem até mesmo nas cenas com grande carga dramática. É da fonte da tristeza de seu passado que vem suas inspirações. Além de ator, produtor e roteirista, Cooper se testa como estreante na cadeira de direção. Deslizes repetitivos à parte, ele entrega seu primeiro trabalho de maneira singular.

Completando o casal com a química necessária para a trama, Gaga consegue oferecer uma cantora talentosa em ascensão e que luta para manter sua personalidade no showbiz. Mas, perdoem-me os little monsters, Ally se perde e dá lugar a Gaga quando a personagem encontra seu lugar ao sol.

Mesmo assim, Ally é o grande momento da carreira de Gaga no ramo da atuação, que já se saiu bem no passado ao vencer o Globo de Ouro de melhor atriz em minissérie por “American Horror Story: Hotel”. Seria arriscado fazer tal previsão tão cedo, porém o trabalho tem cheiro de indicação ao Oscar. O elenco coadjuvante também deixa sua marca, com Sam Elliott, Andrew Dice Clay, Dave Chappelle e Anthony Ramos.

Que nariz!

Apesar de “Nasce Uma Estrela” trazer uma fórmula manjada, o roteiro tenta flertar com a realidade de hoje. Ally está longe de ser uma moça frágil e surge decidida quanto ao que quer para si. No entanto, ela falha ao deixar claro que largaria a fama e o dinheiro que conquistou por seu homem, justamente quem precisou de ajuda para enxergar seu próprio brilho.

Em contrapartida, o filme revela personalidade ao focalizar uma figura masculina que, ao invés de se encantar pelas curvas de sua musa, se prende mesmo à mente de Ally. A admiração física ganha tons românticos quando Jackson se apaixona ainda pelo nariz de sua garota, ao invés dos seios e derrière femininos mais que explorados em outros filmes.

Cores

O diretor de fotografia Matthew Libatique (de “Cisne Negro”) se destaca e usa a simbologia das cores a seu favor. Os tons frios predominam ao mostrar o monótono cotidiano do restaurante. Já as cores quentes dão as caras quando Ally se descobre, como na empolgante canção “Shallow”, letra e melodia daquelas que dá vontade de cantar no chuveiro e carro-chefe da encantadora trilha sonora do longa – que conta com a assinatura de Gaga, claro, e pode render mais indicações.

A partir de determinado momento do filme, é impossível não torcer nem se emocionar pelo casal

Colorido mesmo é o momento em que o casal à moda antiga se encontra em inquestionável sintonia. Durante a apresentação de Ally no bar, o clima das drags impera. É a chance para os fãs de “Rupaul’s Drag Race” prestigiarem rápidas e interessantes performances de duas participantes do reality show. Enquanto Shangela interpreta Bar Emcee, Willam Belli oferece o frescor cômico com Emerald, que arranca risadas da plateia até mesmo na hora que tenta tirar uma casquinha de Jackson. É o reencontro do exército de talentos de Rupaul com Gaga, quem já foi jurada de um dos episódios da temporada de 2017 do programa de TV.

Assista ao trailer de “Nasce Uma Estrela”:

 

(*Colaborador. Imagens: Divulgação)