Por Rafael Molica*
Adaptações de livros são audaciosas: podem tanto indignar fãs da obra bem como serem bem sucedidas – o que é mais raro. Os admiradores de Agatha Christie podem esperar por uma viagem primorosa em Assassinato no Expresso do Oriente, em cartaz há uma semana em todo o Brasil.
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Kenneth Branagh, que aceita o desafio e ocupa tanto a cadeira de diretor como interpreta o protagonista, oferece um pacote completo de entretenimento. Seus acertos começam justamente como seu trabalho como ator. Branagh – que pode ser visto também em “Thor” e “Cinderela” – dá corpo e voz ao excêntrico e cativante Hercule Poirot, um homem que enxerga a vida com dois lados bem claros, o certo e o errado, e assim consegue se tornar o mais competente investigador de crimes de sua época. Tentando tirar uns dias de folga após muitos mistérios espinhosos solucionados, o detetive se surpreende com um novo caso já durante a viagem no Expresso do Oriente. O trajeto é interrompido pela neve, um assassinato acontece e todos os passageiros se tornam naturalmente suspeitos. Enquanto encontra o assassino antes do trem voltar a seguir em frente, Hercule se depara com um caso que o intriga e faz repensar os próprios conceitos. O bigode, claro, é um elemento a mais.
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A trilha sonora assinada por Patrick Doyle ajuda a deixar a viagem mais instigante. As canções proporcionam um embarque direto ao sedutor cenário que o filme se encontra, bem como adiciona a tensão que outras cenas exigem. Até o silêncio chega em boa hora quando preciso. Tudo é dosado. Aos 64 anos, Doyle já contribuiu para outros trabalhos como “Valente” (2012), “Garotas do Calendário” (2003) e “A Princesinha” (1995) e foi indicado ao Oscar em “Hamlet” (1997) – onde se registrou a primeira parceria entre Doyle e Branagh – e em “Razão e Sensibilidade” (1996).
Embora boa parte do filme se passe obviamente dentro da composição título, a fotografia abusa de ângulos que contribuem para o que é contado sem cansar por se estar ali o tempo todo. O público tem a chance de acompanhar os detalhes da investigação e até o faz estar onde perigosamente não deveria. O momento do embarque e a paisagem por onde a locomotiva viaja também são um show à parte e desperta a vontade de se estar ali.
Os personagens são bem apresentados com suas peculiaridades e aparecem de forma equilibrada, proporcionando momentos para o elenco estelar, que conta com Johnny Depp (Edward Ratchett), Willem Dafoe (Gerhard Hardman) e a diva do cinema Judi Dench (princesa Dragmiroff). Conseguimos ver Penelope Cruz em uma faceta não tão comum, bem longe de seus papéis sensuais como Pilar Estravados.
Ao invés de esperar por uma cena extra, clássico de filmes de heróis, vale a pena ficar mais um pouquinho na sala de cinema para ouvir a voz de Michelle Pfeiffer que, além de brilhar com sua personagem Caroline Hubbard em um filme definido por ela mesma como “desafiador” por conta da época e do idioma utilizado, ainda pode ser ouvida durante os créditos interpretando “Never Forget”, composta por Doyle e Branagh. Se a bilheteria colaborar, chega a hora de torcer pela sequência: Hercule deve investigar uma morte no rio Nilo em seu próximo trabalho.
5 curiosidades sobre “Assassinato no Expresso do Oriente”
– A rota original do trem parte de Paris a Giurgiu, na Romênia, e foi inaugurada em 4 de outubro de 1883. Os passageiros visitavam Estrasburgo, Munique, Viena, Budapeste e Bucareste. Mais tarde e pelo sucesso de uma das mais famosas locomotivas de sua época, foi preciso estender a rota até Varna para, finalmente, chegar até Istambul com a ajuda de um ferryboat;
– Na vida real, houve sim um assassinato. Maria Farcasanu foi roubada e assassinada por Karl Strasser, que a expulsou do trem em movimento, um ano depois que o livro de Agatha Christie foi publicado. Em 1950, Simon Karpe desapareceu do trem em circunstâncias suspeitas envolvendo espionagem;
– Para escrever o livro publicado em 1934, Agatha se inspirou em um famoso caso ocorrido em Nova Jersey envolvendo um bebê e que chocou em 1932. A autora também já esteve a bordo do Expresso do Oriente original. Agatha gostava muito de viajar nele e, inclusive, acabou ficando presa no trem por causa de uma inundação devido a uma tempestade em Istambul;
– Depois de Austin Trevor (1931-1934), Francis L. Sullivan (1937), Heini Göbel (1955), Martin Gabel (1962), Tony Randall (1965), Horst Bollmann (1973), Albert Finney (1974), Peter Ustinov (1978-1988), Vidas Petkevicius (1981), David Suchet (1989-2013), Anatoliy Ravikovich (1990), Alfred Molina (em 2001), Konstantin Raykin (2002) e Mansai Nomura (em 2015), Branagh é o décimo quinto ator para encarnar o detetive Hercule Poirot na tela, sem contar com paródias e obras que não são escritas pela autora.
– A posição dos personagens sentados à mesa em uma das cenas finais do filme vai deixar os amantes da arte especialmente interessados. Trata-se de uma referência à pintura The Last Supper, de Leonardo DaVinci.
(*colaborador. Imagens: Divulgação/Facebook FoxFilmDoBrasil)
Contudo, os personagens envolvidos no crime tem seus contextos históricos reduzidos apenas ao final, deixando a desejar quando estão sob investigação. Amei o trabalho de Kenneth Branagh no filme, lembro dos seus papeis iniciais, em comparação com os seus filmes atuais, e vejo muita evolução, mostra personagens com maior seguridade e que enchem de emoções ao expectador. Desfrutei muito sua atuação neste filme: Dunkirk, um dos melhores filmes de drama do 2018 sem dúvida, no filme ele cuida todos os detalhes e como resultado é uma grande produção e muito bom elenco.