Leandro Firmino, o Dadinho/Zé Pequeno do filme “Cidade de Deus”, comentou a falta de negros ocupando papéis importantes na sociedade e na dramaturgia em entrevista a Lázaro Ramos no programa “Espelho”, exibido todas as segundas-feiras às 21h30 no Canal Brasil.

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“Falta muito para o negro ser protagonista e contar suas histórias. Gostaria que isso fosse resolvido agora, pudesse ligar a TV e assistir a uma história com 80% dos atores negros”, diz ele, que fez apenas uma novela – “Vidas Opostas”, em 2006, na Record. “Curti pra caramba fazer, gravávamos na Tavares Bastos, uma comunidade bacana. Fiz grandes amigos nesse período, gente que entrou para fazer elenco de apoio e ficou até o final. Foi uma experiência muito boa, mas acho que não vou fazer outra não, que não vão me convidar mais”, prevê.

O ator como Zé Pequeno em “Cidade de Deus”

O ator vê que pouca coisa mudou 15 anos após o longa que o tornou conhecido. “A situação nas comunidades ainda é triste. Infelizmente jovens, a maioria negros, envolvidos com drogas. Vejo garotos de 12 anos com armas na mão, vão viver até os 40 anos ou morrer muito cedo. Isso é lamentável. Quando os garotos me abordam, converso um pouco, eles ficam felizes de conversar comigo”.

Aos 39 anos, Leandro sente a diferença no tratamento cotidiano pela tonalidade de sua pele. “Sinto preconceito todos os dias. Quando vou a um hospital, todos os médicos são brancos, só fui atendido duas vezes por um médico negro. Numa agência bancária, a maioria dos gerentes são brancos, vejo às vezes um ou uma gerente negra. Chego em lugares nos quais determinadas funções de chefia são ocupadas por pessoas brancas e não me sinto representado. Sofro com isso”, desabafa.

Até quem deveria cuidar da segurança acaba virando um inimigo, conta. “A abordagem policial é uma das coisas mais escrotas para a população negra. O jovem negro toma porrada se estiver andando à noite pela rua”, diz, considerando-se com sorte. “Só fui parado pela polícia duas vezes na minha vida e deu tudo certo”.

Com participações no “Pânico na Band” fazendo o próprio Zé Pequeno que o imortalizou, Firmino avalia sua carreira. “Fiz alguns curtas, projetos de pessoas que queriam iniciar no cinema. Já entrei também em muitas furadas, tomei decisões horríveis. Você acaba aprendendo com os erros da vida. Hoje em dia continuo tentando administrar a carreira de ator com ser pai de família”, diz ele, que tem um filho de 5 anos.