Por Rafael Molica*

Uma cena de sexo ou um escândalo político vindo do alto poder: o que pode ser realmente obsceno para o telespectador? Bruna Lombardi coloca essa e outras questões em cheque na série “A Vida Secreta dos Casais”, que tem seu segundo episódio exibido às 22h deste domingo (8) na HBO. Seu filho, Kim Riccelli, é o diretor e criador da série com ela – e o marido, Carlos Alberto Riccelli, além de atuar também dirige os episódios.

Leia também: Bruna Lombardi produz em família série com sexo tântrico e corrupção

Após assinar os filmes “O Signo da Cidade” (2007), “Onde Está a Felicidade” (2011) e “Amor em Sampa”(2015), a autora fez sua estreia no ramo das séries de TV no último domingo (1), ao misturar de maneira ambiciosa sexo tântrico, corrupção nas altas esferas do poder, espionagem na Internet e as mudanças do jornalismo.

Ela fala sobre como as pessoas vêm enxergando o sexo. “Estamos em um momento de vida no planeta que muito do sexo foi visto e é usado de forma explorativa gerando grandes distorções, de escravidão e coisas terríveis que se acompanha. Isso não significa que você não pode trazer à luz o oposto disso, justamente para combater. A gente pode viver momentos de distorção, mas ninguém pode se chocar com o sexo sendo fruto dele. Uma pessoa que diz ‘eu sou contra o sexo’, nasceu como? Não veio ao mundo sem isso, ou está em negação absoluta do que é”, avalia.

Bruna Lombardi como Sofia na série

“Acho que a visão dessas pessoas está muito voltada para esse universo distorcido, grotesco que se tornou um sinônimo de sexo, mas que absolutamente não é necessariamente a verdadeira tradução”, completa a atriz, em tempos nos quais a nudez causa espanto e reações negativas até quando exposta em museus.

Primeiro episódio

Um show de cenas de sexo e vários pacientes no “divã” da sexóloga Sofia (Bruna Lombardi), sócia do local e uma das personagens centrais, tomaram conta dos primeiros minutos da produção. O momento é completamente sensorial, com direito ao abuso da sensual cor vermelha. O sexo ali é visto como a autora o imagina, de forma orgânica e, porque não dizer, poética.

O segredo de um dos casais é revelado de cara no consultório de Sofia, dando um aperitivo do que está por vir. O pai de família descobre que a mulher não é frígida, mas simplesmente detesta ir para cama com ele. Preocupada com seus pacientes, a sexóloga expõe o olhar de preocupação – sentimento que a série indica que se repetirá ao longo dos atendimentos. Se por um lado o casal se desvenda, por outro o telespectador percebe sem ainda muitas explicações que até mesmo a guru Sofia possui seus mistérios.

O oculto, aliás, acompanha o roteiro em clima de thriller durante um roubo cibernético de proporções surpreendentes e que acontece na calada da noite. Pouco se sabe sobre o crime e quem realiza toda a ação. Por fim, o jornalista com sede da verdade Vicente (Alejandro Claveaux) parece ser quem investigará o que realmente aconteceu. Acompanhado da fotógrafa Renata (Letícia Colin), os dois demonstram e fazer com que a verdade venha à tona.

Estreia morna

Sofia e Alejandro dão seus primeiros passos, mas não suficientes para criar proximidade com o público, o que pode tirar o interesse do telespectador. O mesmo se repete com outros personagens como Luís (Carlos Alberto Riccelli): apesar de ter papel chave, como previamente divulgado, ele apenas atende um telefonema que interrompeu seu almoço em família.

Tendo como cenário os arranha-céus de uma atraente São Paulo, “A Vida Secreta dos Casais” traz uma fotografia típica de série de suspense e cumpre a função de retratar a beleza natural e sem tabus do sexo bem como a sofisticada crueldade do universo do poder. O erotismo e a ação ganham tons mais óbvios com a trilha sonora rica em violinos e pianos.

Letícia é a fotógrafa Renata

Embora a produção misture sexo e suspense, o ritmo do primeiro episódio é curiosamente calmo. “Para você criar e apresentar um ambiente sagrado, você precisa de outro ritmo. Seja qual for sua religião, sua prática espiritual, para entrar em um estado diferente, você precisa saber chegar de mansinho, não pode estar em um frenesi. A gente fez isso para exatamente introduzir esse universo. O primeiro episódio, mesmo com todos os acontecimentos, é relativamente mais calmo e mais lento do que o resto
da série. Você vai ver que as coisas vão acelerar bastante e isso foi intencional”, detalha Kim.

Apesar de morno e com dúvidas em excesso para o telespectador, “A Vida Secreta dos Casais” propõe o bem-vindo espaço para discussões de assuntos que permeiam a sociedade e indica que grandes atuações e personagens estão por vir. Resta saber se os demais 11 episódios trarão fôlego para uma segunda temporada.

(*colaborador. Imagens: Priscila Prade e Renan Rêgo/Divulgação)

Siga TV Ilimitada no Facebook, no Twitter e no Instagram