Por Rafael Molica (*)

Apesar de se passar em 1927, o filme “Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald” se mostra oportuno e deixa claro o grande recado que J.K. Rowling quer dar. A roteirista e criadora de todo o vasto universo de Harry Potter situa o telespectador justamente no período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, recheado de incertezas, polarização, ideologias e prenúncio de crueldades. No segundo capítulo da série de cinco filmes, acompanhamos as primeiras atitudes de Gellert Grindelwald (Johnny Depp), o Voldemort da vez.

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É cedo dizer se o “novo” vilão será mais icônico que o anterior, mas Gellert, a grande estrela do longa e dono de uma cena de fuga espetacular, mostra o que a ardilosidade de tiranos políticos pode causar nas mentes das pessoas, no caso, dos bruxos. Ao longo da história, o personagem se aproveita das fragilidades de quem quer seduzir e as usa a seu favor para galgar aliados. Um caso emblemático é a maneira como ele conseguiu conquistar o apoio de Queenie Goldstein (Alison Sudol) que se revolta com a proibição do relacionamento entre bruxos e não-bruxos, o que impede de viver o amor que nutre por Jacob Kowalski (Dan Fogler).

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Johnny Depp no papel do vilão Gellert

Embora Depp traz um vilão um tanto quanto preguiçosamente canastrão, Gellert oferece uma voz perigosamente compreensiva e alimenta as mentes de todos por onde passa com o discurso excludente do “nós-contra-eles”, a polarização que desemboca na assustadora intolerância entre as pessoas, algo atual e muito bem pontuado por J.K. Rowling. Fica a curiosidade de como ela irá dosar tais temas nos capítulos seguintes.

“Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald” oferece uma segunda introdução do que estar por vir. Diferente do primeiro filme, desta vez os fãs vão vibrar com as diversas referências e conexões com a saga Harry Potter: Nicolau Flamel (citado em “Harry Potter e a Pedra Filosofal”), Hogwarts e Nagini (longe de ser a cobra de Voldemort) são alguns exemplos. Principalmente Alvo Dumbledore está de volta na pele de Jude Law. O ator inglês presenteia desde já com um personagem carismático, sábio e coerente, dando sede de ver o que está por vir.

Protagonista vira mero observador

Grave problema do filme é o excesso de informação. Se por um lado um livro permite páginas e páginas de detalhamento, a elasticidade não funciona na telona. O capítulo é longo, mas se torna confuso e peca no excesso de flashbacks, explicações e apresentações de subtramas. J. K. Rowling, inclusive, cria uma grande armadilha para si mesma: vê-se tanta informação que corre-se o risco de colocar em cheque regras estabelecidas do próprio universo que criou. Trata-se de um filme para fãs da saga, não dando tempo para o mero espectador entender tudo o que está acontecendo.

Por isso, o magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne, cansativo e exagerado ao ilustrar os trejeitos do personagem), acaba se tornando um mero espectador de tudo o que acontece. Os tais animais fantásticos, aliás, pouco aparecem no filme e só estão ali para reservar um exclusivo espaço para Newt e dar um ar leve ao capítulo tão sombrio da trama. O mesmo acontece com a auror Tina Goldstein (Katherine Waterston), mais complexa, mas que pouco age e está longe de compor a química de um par que ainda nem sequer se formou. Tudo isso se perde para dar lugar a eventos mirabolantes, reviravoltas e nomes como Leta Lestrange (Zoë Kravitz), que tem muito a dizer e pouco tempo dedicado a ela no roteiro, e o irmão de Newt, Teseu Scamander (Callum Turner).

Selo de qualidade

Após o primeiro capítulo se passar em Nova York, agora tudo acontece na Europa. A passagem por Paris dá chance de brincar com o universo bruxo em meio aos costumes franceses, outro ingrediente que contribui para a leveza do filme, cuja continuação terá cenas no Rio de Janeiro, conforme já deu pistas a autora no Twitter.

A figurinista Colleen Atwood acerta ao imaginar a junção de tudo isso. Ela, aliás, já brilhou em trabalhos como “Caminhos da Floresta” (2015), “Nine” (2009), “Sweeney Todd, o Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet” (2007) e poderá ser prestigiada em “A Pequena Sereia” (sem data de estreia definida) e “Dumbo” (2019). Deixa a imaginação viajar ao imaginar como o universo da magia poderia se misturar a outras culturas.

A trilha sonora também é precisa no longa. James Newton Howard, de “Batman: O Cavaleiro das Trevas” (2008), entrega um trabalho sensível tanto nas cenas emotivas como nas majestosas. Os efeitos especiais e fotografia, mais uma vez, não deixam a desejar, marca de todo universo Harry Potter.

No final das contas, “Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald” é um belo filme que se encaixa como uma transição, mas que dá espaço para bons frutos no futuro.

Mais de “Animais Fantásticos”:

Assista ao trailer:

J.K Rowling e Eddie Redmayne comentam cenas do filme:

Ezra Miller convoca os brasileiros a irem caracterizados ao cinema:

 

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Atenção, fãs brasileiros do Mundo Bruxo! ⠀ O Ezra Miller tem um recado especial pra vocês. ⠀ #AnimaisFantásticos

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(* Colaborador. Imagens: Divulgação)