Por Rafael Molica (*)

Todo certinho, Superman jamais deixou seu cabelo milimetricamente penteado se abalar, mesmo perto de uma Kryptonita. Batman sempre foi retratado de maneira sombria nas suas variadas versões. Na contramão de tudo isso, chega aos cinemas nesta quinta-feira (13) “Aquaman“, apresentando um herói de apelo carismático e mais rock n’ roll. Interpretado por Jason Momoa, ele abusa das tentativas de mostrar o lado bem humorado e desleixado – quase sempre descamisado, em estilo à la Carlos Lombardi na teledramaturgia. Um personagem, inclusive, bem diferente do que povoou páginas e páginas dos quadrinhos.

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Em uma era do cinema na qual a Marvel tem dado de 10 a 0 com personagens cativantes, a rival DC responde à demanda do mercado – ou simplesmente se apropria do que tem dado certo – em sua mais nova aposta. Os novos ares surgem com o personagem, bem como em todo o conceito do filme – o que o faz se diferenciar de toda a mitologia DC.

O Reino dos Sete Mares enche os olhos com sua configuração quase carnavalesca, apresentando as profundezas que misturam flora e fauna, tecnologia avançada e paleta de cores anos 1980. E tudo funciona. Até os figurinos assumem o mesmo colorido, com referências a polvos, águas-vivas sem medo de se esconder. O universo de Aquaman, aliás, mostra-se melhor aproveitado do que a artificial Asgard, de Thor, Loki e sua turma.

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Simbólico como o novo momento da DC, o uniforme do herói vem com o fiel verde e dourado do papel, mas com ar crível ao filme. Renegado como peça secundária nos quadrinhos, Aquaman era motivo até de chacota pelo jeito mais certinho. Isso se foi, mas ele consegue se comunicar com os animais e cavalga em cavalos-marinhos, para o deleite de fãs mais antigos.

Atuação fica em águas rasas

Como muitos blockbusters, as interpretações ficam em segundo plano. Momoa diverte com as tiradas de seu personagem, mas o confuso Arthur que precede a aventura não surge convincente. O par romântico Mera (Amber Heard) vem como heroína poderosa, decidida e mestre na luta, curiosamente parecida com a Mulher Maravilha – grande e solitário recente sucesso da marca. O casal propõe uma química que funciona, mas peca em diálogos no filme. Mãe de Arthur, Nicole Kidman entrega uma exuberante Atlanna, peça chave da história.

Willem Dafoe trouxe potencial para o vizir Vulko, personagem pouco aproveitado pelo roteiro. Yahya Abdul-Mateen II, único ator negro no filme, é Arraia Negra, vilão de motivação incansável para perseguir Aquaman. Todos as personagens ganham momentos únicos em cenas de ação, com lutas eficientes e criativos jogos de câmera. Há natural predominância em confrontos no mar, mas as cenas na Sicília, conexão romana da origem de Atlântida, e no deserto ajudam a não deixar o filme cansativo.

Com pontos fortes e ressalvas, o retalho de lutas e os efeitos de primeira funcionam e divertem os admiradores do gênero. Ao lado de Mulher Maravilha, pode ajudar a nutrir um pouco mais o universo DC e deixar a disputa com a Marvel menos distante.

(*) colaborador. Imagens: Divulgação